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Fuso horário: Chegou a hora de decidir qual a melhor hora para os acreanos

Acreanos terão a oportunidade, no próximo domingo, de continuar mais ligados ao centro do país ou voltar aos tempos em que o expediente iniciava aqui quando o de lá terminava.


O acreano votará domingo que vem para escolher o novo presidente da República, em votação de segundo turno, mas sob os mesmos critérios da votação em primeiro turno, com abertura das sessões às 8h e seu fechamento às 17h. A diferença da ida às urnas no Acre está na votação dum referendo, marcada para acontecer no mesmo horário, por meio do qual o eleitor decidirá se a hora daqui continua como está ou se voltará ao horário antigo, quando a diferença para Brasília era de duas horas. Para isso, haverá duas urnas em cada sessão.
Como a escolha para presidente, a disputa de horário também ganhou corpo nas ruas. Por determinação da Justiça Eleitoral, criaram-se comitês em defesa do “sim” e do “não”, assim como inserções no rádio e televisão, bem nos moldes duma disputa eleitoral. O resultado da abordagem a pessoas nas ruas, realizada por O RIO BRANCO, essa semana, comprova o envolvimento geral nessa disputa paralela. Ninguém dos entrevistados quis ficar fora da discussão. “Temos que aproveitar essas aberturas da democracia para expressar nossas vontades”, disse, por exemplo, o advogado Joaraí Pinheiro.
A disputa do “sim” com o “não” acontecerá por via dum referendo porque o povo vai acatar, ou não, aquilo que o Congresso decretou, o contrário do plebiscito.
Em 1913, quando Rio Branco ainda era um projeto de cidade nos arredores do barracão do Seringal Empresa, a diferença de fuso-horário em relação ao Rio de Janeiro, então capital do país, era de quatro longas horas. No dia 18 de junho daquele ano o presidente Hermes da Fonseca havia sancionado decreto do Congresso Nacional dando legalidade a essa diferença, numa congruência a acordos internacionais que haviam estabelecido o meridiano de Grenwich como o ponto de partida.
Antes de aprovar o decreto, porém, o Congresso discutiu com as regiões suas conveniências, resultando num mapa meridional com linhas tortuosas. As imaginárias retas dos três meridianos que cruzam o Brasil viraram verdadeiros zigue-zagues. O horário foi convenientemente adequado, ao ponto de Porto Alegre ficar com o mesmo horário de Curitiba, mesmo não estando as duas cidades dentro do mesmo meridiano. A justificativa: os negócios duma capital concatenavam com o mercado da outra. Nesse traçado o Acre ficou sozinho com quatro horas de diferença, porque o Amazonas não permitiu ter horários diferentes dentro de seu vasto território e dentro do mapa da Região Norte.
À época do decreto sancionado pelo presidente Hermes da Fonseca não houve nenhum motim no Acre. Território então recentemente anexado ao Brasil e sem comunicação com o resto do país, senão pela precária via fluvial, quando um depósito bancário dum seringalista acreano demorava até três meses para acontecer no Rio de Janeiro, não havia nenhum interesse em relação à diferença de horários. Tanto fazia aquelas quatro horas.
Quase um século depois, um novo decreto restabelece nova diferença de horário, conforme as conveniências comerciais, na tentativa de incluir o Acre na roda comercial que gira o Brasil em capitais como São Paulo, bem como outras conveniências com Brasília. Acusados de estarem movidos por paixões políticas, alguns grupos travam uma “guerra”, com direito a cabo eleitoral e promessa de boca de urna. O desfecho fica o referendo de domingo. Defensores do antigo horário argumentam não terem sido consultados. Entidades com presença forte na vida política e econômica do Estado resolveram entrar na discussão. “Em todas as áreas abordadas encontraremos fatos e exemplos relacionados à praticidade em termos o horário do Acre com apenas uma hora de diferença em relação ao horário oficial do Brasil”, diz o presidente de uma dessas entidades organizadas, a Associação Comercial do Acre, João Fecury.

O POVO OPINA

Leonardo Rodrigues, 17, estudante universitário: “No antigo horário, está provado, nós ficamos muito atrasados em relação ao Brasil. Esse negócio de expediente quem faz são as repartições. Se o dia amanhece às 6h30, porque não começar a trabalhar uma hora depois. Sempre foi assim”.

Poliana da Silva, 19, estudante universitária: “Gente eu estou tendo que sair de madrugada de casa. Moro na Vila Acre. Se der bobeira chego na aula atrasada, sem contar o perigo que eu corro. Por isso, vou votar pelo retorno do horário antigo. Ficarei mais segura”.

Willi Nascimento, 23, dono de distribuidora: “Ah, vou votar pela continuidade do atual horário. Eu que tenho uma pequena empresa fiquei bem mais à vontade para realizar meus negócios. Facilita o serviço de banco, cheques. Não vi nenhum inconveniente, sinceramente”.

Alcindo da Silva, 21, estudante universitário: “Vou votar pela permanência do atual horário. O Acre sempre foi atrasado em tudo. Será possível que até na diferença de horário teremos que ser atrasados também. Espera aí, gente, vamos usar a consciência. Vou de 55 nas urnas”.

Gigliane Nascimento, 29, autônoma: “Puxa, vamos ficar mais perto do Brasil, mais atualizados, votando no 55. O horário antigo, é porque não estão lembrando, mas até o futebol estava sendo visto aqui com uma hora de atraso. Isso é brincadeira. Vamos votar pela permanência desse horário atual”.

Joraí Pinheiro, 50, advogado: “Chegar mais cedo em casa é meu principal argumento para votar no horário atual. É melhor para tudo. Questões de banco, de Justiça, tudo melhorou com essa diferença menor em relação a Brasília. Não vejo motivo para voltar ao horário antigo”.

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