Site Cultural de Feijó

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Major Estephan, comandante da policia se despede do município de Feijó

1º) Quanto tempo o Capitão e hoje Major ficou no comando da policia do município de Feijó? E, Quando o Capitão assumiu o comando da policia militar como se encontrava o município em termo de violência, homicídios, tentativas de homicídios, estupros, roubos e furtos e porte de arma branca. E, como hoje está o município de Feijó?

Major Estephan.  Assumi o comando da Companhia PM de Feijó no início de julho de 2009 e até o dia de minha transferência a qual, já definida para o dia 1º de dezembro perfaz um período de dois anos e cinco meses. Bem, com relação à situação que Feijó se encontrava devo confessar que quando cheguei tive uma boa impressão, porém um dado de recepção me assustou bastante. Logo no segundo final de semana, quando aqui já estava, oito pessoas deram entrada no hospital vítimas de arma branca, e aí entenda faca, canivete e tecado conforme o que foi registrado. Percebi então que tínhamos um grande problema pra ser resolvido. Os índices de crimes contra a vida eram altos, desde lesão corporal por armas branca, tentativa de homicídio e homicídio consumado. Os furtos sempre foram um problema, principalmente de bicicletas e aí chamo a atenção mais uma vez - enquanto não houver uma mudança de cultura da população esses fatos sempre estarão acontecendo. Quando falo de mudanças quero que você entenda, que por menores que sejam as ações, essas contribuirão para a redução dos fatos delituosos. Sempre alertamos a população, via programa de rádio, quanto à vigilância dos seus bens móveis e imóveis, não os deixando “abandonados”; aos comerciantes que não guardem grande volume de dinheiro no caixa e não os conte na presença de qualquer um e tantas outras orientações que foram passadas, que se adotadas garantirão a redução da mancha criminal. O furto ainda é um grande problema e o fato é que a grande maioria é praticado por menores e o problema disso tudo é que eles sempre voltam a repetir o ato infracional. Quanto aos estupros sempre tivemos um número bem reduzido de ocorrências, porém, o que tem nos deixado preocupado é a violência doméstica. São muitas mulheres que sofrem caladas dentro de casa e isso precisa ter um fim.


2º) Além, dos trabalhos relacionados a segurança da população feijoense o comandante, realizou um bom trabalho social, principalmente em relação as drogas, inclusive tentando trazer uma filial da APADEQ, para o município de Feijó. Fale um pouco deste trabalho.

Major Estephan. A apadeq quer dizer associação dos pais e amigos dos dependentes químicos e na minha cidade, Cruzeiro do Sul funciona uma. É maravilhoso o que é feito lá. Sabemos que as drogas, lícitas ou ilícitas trazem um prejuízo pra saúde de quem quer que a use. Ao fazermos um diagnóstico criminal do município percebemos que a maioria das ocorrências se dava, principalmente, por motivação do álcool. Logo em seguida nos deparamos com um descaso existente no centro da cidade. São vários cidadãos que cotidianamente se embriagam e dormem nas ruas em plena luz do dia. Apesar de sabermos se tratar de um caso de saúde pública decidimos buscar ajuda do Branco que é um amigo que presta um excelente trabalho a frente da apadeq. Por conhecer o trabalho que é desenvolvido naquela clínica no que diz respeito à recuperação de pessoas com dependência de drogas químicas e álcool vi a possibilidade de, com o apoio do amigo Branco instalarmos uma filial da apadeq aqui em Feijó. Convidei-o para vir até aqui e juntos realizamos uma reunião com a presença de todas as autoridades do município além de vários cidadãos que se interessaram pelo assunto, incluindo alguns empresários. Depois de três reuniões resolvemos, com o apoio da prefeitura e da classe empresarial, ocupar o prédio do antigo colégio agrícola, onde funcionaria a clinica, contudo, quando tudo parecia estar dando certo fomos surpreendidos com a impossibilidade de fazermos uso do espaço devido ao Instituto Dom Moacir já ter um projeto para o local e, portanto, nosso sonho foi frustrado. Com tudo isso acho que o sonho não acabou e deixo uma mensagem à população de perseverança, otimismo e luta: Busquem junto ao estado, município, igreja, com quem quer que seja, uma solução pra esse descaso. Enquanto nos posicionarmos como meros expectadores, muitas vidas estarão sendo ceifadas. Sei o quanto é importante pra família a figura do pai, porém, infelizmente, muitos filhos, mães, irmãos e amigos choram todos os dias ao depararem com a situação que vivem seus entes queridos, literalmente jogados na sarjeta. Sabemos que muitos já presenciaram o que estou falando, mas, só presenciar não basta é preciso enxergar, ver aquilo como um problema que precisa ser resolvido. Infelizmente não conseguimos dar continuidade na instalação da apadeq. É uma pena!          

3º) Os seus relevantes trabalhos, tanto em termos de segurança, como em termos sociais contribuíram para a sua promoção de Major?

Talvez tenha influenciado, ou não. Eu sempre busquei exercer da melhor maneira possível minha profissão. Sei do meu papel constitucional e nunca medi esforços para fazer com que as unidades que tive a oportunidade de comandar prestassem um serviço de qualidade ao cidadão. Acho que mesmo quem estar no interior tem condições de desenvolver um bom trabalho, apesar de sabermos que é um grande desafio devido estarmos distante da capital. Mas devo dizer que hoje, mesmo as unidades mais longínquas estão bem mais assistidas pelo comando geral da corporação, pois, num passado não muito distante a coisa era bem complicada.   

4º) Como o Major está deixando o comandando da policia militar de Feijó, em termos de policiamento, armas e viaturas.

O policiamento proativo realizado pelos nossos policiais com execução de abordagens às pessoas à pé, de bicicleta, de carro, rondas nos bairros, presença na área comercial, em frente aos clubes de dança e  tantas outras atividades foram o que garantiu que reduzíssemos os índices de violência no município. Essas ações só foram possíveis devido a estrutura que dispomos para o trabalho. Além dos treze policiais que recebemos, fomos contemplados com seis motocicletas novas, armas pra todos os policias, três pistolas taser não letal, ou seja, não matam, apenas imobilizam o agente com uma descarga elétrica, uma viatura 4x4 nova que se encontra em Rio Branco para manutenção e outra do tipo passeio que também foi mandada para manutenção. No momento dispomos de um veículo semi-novo, mas tenho a garantia do comando de que em dezembro teremos pelo menos uma das duas que estão para concerto. 

5º) Para o comandante não faltou nada durante a sua estadia no comando da policia militar do município de Feijó. A implantação do policiamento nos bairros por exemplo?

O policiamento nos bairro ocorre diariamente e é rotativo. Todos recebem visita da polícia, porém é lógico que damos maior ênfase nas rondas àqueles que apresentam maiores índices de ocorrências. Durante o período do inverno, mais precisamente no mês de janeiro deste ano tivemos que intensificar o policiamento à pé no bairro Zenaide Paiva devido aos vários casos de agressão física, furtos e roubos que houveram naquele período devido a impossibilidade de a viatura patrulhar por falta de pavimentação das vias e os delinqüentes se aproveitaram disso para agir contra os moradores, contudo, mantivemos uma atuação mais enérgica para conter as ações dos meliantes. Apesar desse fato não vejo necessária a presença fixa de policiamento em todos os bairros até porque não teríamos efetivo suficiente para atender todos os bairros.  O sistema de ronda com abordagem tem dado certo.     

6º) Durante o tempo do seu comando, houve uma redução da violência? E se houve a quem o senhor indica essa queda da criminalidade?

Com certeza houve. De nada adiantaria as polícias estarem nas ruas correndo atrás do criminoso e prendendo-os se não houvesse uma atuação firme e exemplar do ministério púbico e do judiciário. Mesmo que alguns juristas entendam que uma pessoa não deva ser detida por estar portando uma faca, por exemplo, os juízes e promotores e delegados com quem tive o prazer de trabalhar aqui em Feijó pensam diferentes e por isso, muitos que foram flagrados com faca, punhal e similares responderam por essa prática. Atribuo a essa considerável redução da criminalidade ao trabalho conjunto entre a polícia militar, polícia civil, ministério público e judiciário, obviamente, com o apoio da população. Posso afirmar que a prática do porte de arma branca reduziu consideravelmente. Tínhamos uma média de 20 facas aprendidas por mês e hoje dificilmente esse número passa de 08. Muitas ocorrências graves envolvendo facas eram registradas em frente aos clubes de dança. Devido a isso, passas a manter sempre uma patrulha no local desde o início até o fim da festa e, devido a essa prática, a mais de dois anos não tivemos registros ocorrências graves nesses locais.


7º) O comandante conseguiu implantar o policiamento escolar, onde tem alto índice de aceitação nas escolas, aproximando mais policia da  comunidade. Esse projeto de grande relevância será que vai continuar?

Tenho certeza que sim. E espero que a comunidade escolar jamais permita a extinção do policiamento. Esse trabalho é muito gratificante. Nossa atuação não se limita apenas aos quatro murros da escola, pois, quando percebemos que o problema que o aluno está levando para o colégio é oriundo do seu lar, o policial vai até a casa dos seus pais e inicia um processo de ajuda no intuito  buscar uma melhora na conduta do aluno. Além das visitas os policiais realizam palestras, participam de reuniões com os pais e professores, fazem investigações de pequenos delitos ocorridos no colégio além de apoiarem o conselho tutelar quando necessário. Vale também ressaltar o proerd. Até o ano de 2008, somente as escolas da rede estadual recebiam as lições do programa, mas entendemos que os alunos das escolas do município também deveriam ser contemplados com as lições e, por isso, buscamos firmar parceria com a Secretaria Municipal de Educação e, por conta dessa parceria aumentamos em mais de 50% o número de alunos que recebem orientações contra o uso de drogas e emprego de violência.            

8º) Percebe-se que o Major é um homem carismático e que conquista simpatia e amizade por onde passa. A que se deve essa popularidade?

Eu acredito que não há felicidade se nos sentimos sós ou isolados. Nosso espaço deve ser construído por nós mesmos. Se tratarmos bem as pessoas, certamente vamos ser bem tratado por elas. Sou de uma família que gosta de cultivar a amizade, de servir ao próximo e sempre me senti bem vendo as pessoas sorrindo. Apesar de algumas vezes termos tomado atitudes antipáticas, na visão daqueles que tiveram que ser autuados por uma infração de trânsito, ou conduzido para a delegacia. Esperamos que compreendam que esse é o nosso trabalho e compete a nós a fiscalização da lei.  Mas devo dizer que tudo isso aqui é passageiro, amanhã chegará outro que poderá facilmente fazer muito mais do que o procuramos realizar e, portanto, se não aproveitarmos esses momento para construirmos novas amizades, conhecer pessoas, tudo terá sido em vão. O que levamos dessa vida são os bons momento vividos do lado das pessoas que fazemos e nos fazem bem. Só sei de uma coisa: sentirei muitas saudades dos amigos que encontrei aqui na querida Feijó.    

9º) Para o Major, a tropa que esteve sob o seu comando contribui muito e percebe-se que a mesma trabalhou ombro a ombro, na redução da criminalidade? Como o comandante avalia e atribui o alto índice de aceitabilidade do seu comando pela tropa?

Sabemos que nem Jesus agradou a todos. Não serei hipócrita de dizer que todos gostaram do meu comando. Só tenho a certeza de que procurei tratar a todos sem qualquer distinção, respeitando-os acima de tudo, pelas suas diferenças, ponto de vista, crenças opinião partidária e, etc... No intuito de oferecermos melhores condições de saúde à família policial intercedemos junto ao comando da corporação, no sentido de que os atendimentos odontológicos e médicos fossem realizados neste município e não em Tarauacá como acontecia. Hoje nosso policial pode contar com um dentista, um médico e um fisioterapeuta conveniado pelo fundo de saúde da PM para atendê-lo e também à sua família. Todas essas conquistas, certamente elevaram a auto-estima dos policiais e isso refletiu na prestação de serviço ao cidadão. Os resultados não teriam sido possíveis se não houvesse por parte do comando um tratamento justo e igualitário aos seus comandados. Mudamos a escala de serviço para uma mais justa, proporcionamos aos mesmos se sentirem parte do processo onde puderam opinar, discordar, sugerir, ou seja, procuramos fazer um comando participativo. Fico muito satisfeito em poder dizer que somos uma equipe e buscamos juntos, proporcionar uma melhor segurança à população feijoense. Pra mim, os melhores exemplos de dedicação e compromisso com a instituição e o cidadão demonstrados por minha tropa se deram no dia-a-dia com os resultados de cada serviço, mas, principalmente, durante os policiamentos dos carnavais e festivais do açaí e praia, pois mesmo havendo a necessidade de redução de folga e, conseqüentemente, maior carga de trabalho, o serviço realizado pelos policiais militares garantiu o sucesso das operações.     


10º) Houve algum projeto social envolvendo policia/comunidade  que o senhor gostaria de ter realizado mas, por falta de tempo e apoio não foi possível realizar?

Não diria por falta de apoio, mas tempo. Elaboramos um projeto de polícia comunitária, intitulado “cinema na quadra” que deveríamos ter colocado em prática logo após o festival do açaí. O projeto visa uma aproximação maior entre a polícia e o cidadão. Hoje a polícia busca trabalhar em parceria com a comunidade onde essa possa sugerir e discutir ações e até criticar caso a atuação policial não esteja atendendo aos anseios daquela população. Mas, mesmo não realizando esse projeto, estamos com outro em andamento onde a nossa principal parceira é a comunidade escola. Trata-se de um projeto de educação para o Trânsito que está sendo realizado dentro das escolas e prevemos a culminância para dezembro próximo.

11º) Qual a frustração que o senhor teve no seu comando que não foi possível solucionar?

Não diria frustração, mais queria poder ter combatido mais veementemente o tráfico de drogas. Seria utopia dizer: vamos acabar com o tráfico de drogas em Feijó. Não é tão fácil assim o combate, pois demanda muita logística, capacitação para os policiais da área, serviço de inteligência, ação integrada de todas as forças policiais, ou seja, necessita de uma estrutura, digamos, mais completa. 

12º) Qual a avaliação que o senhor faz do seu comando, a nível social e a nível de segurança, a respeito da imagem da policia de Feijó ter melhorado no meio da comunidade?

Acredito que em ambos os níveis pudemos contribuir um pouco para a segurança e o bem estar da população. Direcionamos nosso comando para um modelo de polícia moderno onde o cidadão tem a oportunidade de contribuir com informações e por que não sugestões? O modelo repressivo anteriormente adotado já está obsoleto. A mudança para uma polícia cidadã onde o foco do trabalho é a prevenção tem feito com que o cidadão passe a acreditar e confiar mais na polícia. O simples fato de fazermos uma visita a uma vítima de tentativa de homicídio ou mesmo de ameaça faz com que aquela pessoa veja no policial a figura de um amigo. Não podemos aceitar a idéia de que o policial não é bem vindo, pelo contrário, queremos que as pessoas se sintam bem perto dele e esse sentimento de aceitação só foi possível conseguir a partir do momento em que nos colocamos como prestadores de serviço da comunidade. Quero aproveitar o momento para agradecer a todos os policiais militares pelo apoio, comprometimento e atenção dispensada a mim e a minha família a toda população feijoense pela a acolhida, e confiança.      

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