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Violência assusta professores em escolas do Acre

Já pensei em desistir', diz professora ofendida por aluno. Diretor de Gestão da SEE participa do BDA e G1 nesta sexta-feira (11).
Casos de agressões em escolas do Acre têm se tornado cada dia mais comuns. Professores que já foram agredidos ou presenciaram agressões dentro e fora das escolas relatam as dificuldades que enfrentam para exercer esse ofício.
Nesta sexta-feira (11), o diretor de Gestão da Secretaria Estadual de Educação, Evaldo Viana, participará de um chat ao vivo no G1, após o telejornal Bom Dia Amazônia - edição das 7h30. No programa, será abordado o problema da violência dentro das escolas acreanas. Os internautas podem enviar os questionamentos por meio de comentários nesta matéria ou pelo e-mail: g1.ac@redeamazonica.com.br.
'Ganhei uma gastrite nervosa', diz ex-professora
Recém-saída da faculdade e cheia de ideias para aulas. É assim que a ex-professora de Língua Portuguesa, que prefere não se identificar, conta que estava ao passar em um concurso público para trabalhar rede pública de ensino do Acre, em 2005. No entanto, ainda em seu primeiro ano de atuação ela acabou desistindo, após sofrer agressão de um de seus alunos.
Ela diz que tinha um bom relacionamento com todos os alunos e como tinha alergia ao giz utilizado para escrever no quadro, pedia para que algum dos estudantes escrevessem no quadro negro para ela. No dia da agressão a ex-professora conta que uma aluna estava escrevendo o conteúdo da aula para ela no quadro e a discente apagou parte do material escrito. Um aluno se irritou, porque não tinha terminado de copiar.
“A aluna apagou parte do conteúdo que estava no quadro para escrever mais, ele ficou com raiva porque não tinha terminado de escrever, só que ela disse que ele estava conversando. Eu falei para ele pegar o caderno de alguém e copiar a parte que ela apagou. Aí ele virou de costas e deu um chute na cadeira que bateu na minha perna e ficou roxa”, lembra.
Depois disso, a ex-professora relata que esperou apenas o final do bimestre para deixar o colégio e o magistério, por causa da sensação de insegurança e frustração.
“Ganhei uma gastrite nervosa. Depois de quase duas semanas o aluno veio falar comigo para pedir desculpas. Disse que nem pensou que a cadeira ia bater em mim, mas até ele vir eu ficava com medo que ele arranhasse meu carro ou fizesse algo comigo, mas lógico que aceitei as desculpas. Eu lembro que fazia trabalhos práticos com os alunos, sarau, mas eles não queriam nada com nada. Quando eu saí, algumas alunas foram à minha casa”, comenta.
Após sair do colégio, ela se tornou advogada e diz que não pensa mais em voltar a trabalhar na área de educação. “Gosto muito da língua portuguesa, mas trabalho na área só se for para ser revisora e não em escola”, diz.
Plano de Combate
Diretor de Gestão da Secretaria Estadual de Educação (SEE), Evaldo dos Santos Viana, conta que no último mês de março, o órgão fez uma pesquisa nas escolas da rede estadual de ensino para tentar identificar as causas da violência nas escolas.
De acordo com ele, esse trabalho, que é feito em parceria com o Ministério Público do Acre (MP-AC) deverá resultar em um seminário sobre o tema. Ele conta ainda que a Secretaria estimula a adoção de algumas medidas para combater a violência escolar.
"Nosso plano funciona nos 200 dias letivos. É sempre a busca para minimizar a violência nas escolas e aí nada melhor que campanhas de conscientização, desenvolvimento de projetos como 'Cultura da Paz', 'Quem Brinca não Briga' e 'Recreio Dirigido', além do levantamento da vida dos envolvidos em conflitos para saber por que um aluno causa problemas, porque assim tem como se atacar melhor o problema", comenta.
Segundo dados do Centro Integrado de Operações e Segurança Pública (Ciosp), apenas nos primeiros meses de 2013, o policiamento escolar atendeu mais de 400 chamados, dentro e nas imediações de escolas públicas envolvendo violência.
‘Já pensei em desistir’
Maria Costa dos Santos, 45 anos, é professora de história há 22 anos. Ela diz que já sofreu agressão verbal dentro da sala de aula e já passou por várias situações difíceis. "Gosto da profissão, mas já pensei em desistir. Às vezes na sala de aula você se depara com alunos que têm personalidades difíceis. Muitas vezes a escola não está preparada para lidar com essa situação. A família quando é chamada na escola também não contribui para resolver o problema. Já teve muitos casos", afirma.

Para ela, vários fatores contribuem e incentivam a violência escolar. "Existem vários vilões, mas a falta de estrutura familiar é o principal vilão. A família é a base. Quando a família está estruturada, disponível para ajudar a coisa muda de figura. Mas se a família não está pronta, dificulta a situação", avalia.
Quando foi ofendida por um aluno, de apenas 11 anos, a professora conta que a mãe foi chamada à escola, mas não estava disposta a colaborar. A solução encontrada pela direção da unidade foi transferir o garoto para outra instituição.
"A mãe não tinha estrutura emocional para lidar com o filho. Ela dizia que a escola que se virasse porque o filho gritava até com ela. Conversamos com a mãe, ela aceitou que o filho mudasse de escola, para que ele se adequasse a outra situação, tivesse contato com outras pessoas. Ele pode melhorar, ou não. O professor não pode estar à mercê, precisa de um ambiente favorável", diz.
Ambiente este que segundo ela, não é oferecido. "Os professores não passam por acompanhamento psicológico, que possa nos ajudar a lidar com essas questões. Além disso, falta estrutura física, trabalhamos com o mínimo, em salas quentes. Falta também parceria dos pais no acompanhamento dos filhos", reclama.
Ameaças externas
Há nove anos como educador, um professor que prefere não se identificar, conta que a violência no ambiente escolar, às vezes vêm de fora.
"Fui coordenador de ensino durante dois anos. Não recebi ameaças propriamente de alunos, mas de garotos que ficavam do lado de fora. Na tentativa de preservar os alunos da escola a gente acaba se expondo. Para mim a ameaça veio através de um desses meninos que não estudavam no colégio. Ele entrava na escola e eu pedia para ele se retirar. Em um desses episódios, ele me ameaçou, disse que iria quebrar todo o meu carro, que ia me matar", lembra.
O professor chegou a ir com o menor para a delegacia, onde foi registrado boletim de ocorrência e foi marcada uma audiência. Porém, o menor não compareceu a audiência e chegou a ameaçá-lo novamente. "Foi quando resolvi mudar e voltar para a sala de aula novamente, pelo incrível que pareça é mais tranquilo que uma coordenação", comenta.
Para o professor que sofreu ameaça quando atuava como coordenador, a atuação do policiamento escolar, agentes da Polícia Militar que fazem rondas nas escolas da rede pública de ensino, é falha.
“A ronda escolar tem sido pouco presente. Passam dois policiais, em uma região muito grande com mais de 20 escolas e a gente sabe que é inviável. Eu acharia legal se essa presença fosse principalmente nos horários de pico, entrada, saída e recreio na escola. Porque é um horário que pode ter entrada de droga e outras violências”, comenta.
Ele também diz que as escolas de bairros periféricos de Rio Branco estão mais vulneráveis e denuncia que traficantes estariam pedindo que os alunos repassem o nome de professores que fazem comentários contra as drogas. "Eles pegam o nome do professor e o profissional começa a sofrer ameaças, principalmente em escolas localizadas em bairros periféricos", diz.
A situação, contudo não deve mudar tão cedo, pois, segundo a sargento Sineide Maria Ferreira Soares, o efetivo é pouco. “O efetivo da Polícia Militar é pequeno e eles trabalham nesses horários de pico. Não há como ficar um ou dois policiais em cada escola, infelizmente é inviável. Por isso, a gente trabalha mais a questão da prevenção, com rondas, palestras conversas com a gestão da escola. Não pode ser somente o policial dentro da escola para prevenir, mas a gente tem pretensão sim de aumentar”, enfatiza.
De acordo com a ela, as escolas foram divididas por regionais. São cinco em Rio Branco e cada uma conta com um grupo de quatro e até seis policiais no patrulhamento escolar, mais a coordenação do policiamento escolar que realiza palestras contra a violência nas escolas. Esses policiais recebem ainda uma capacitação para atuar no âmbito escolar.
Importância da família
Um ponto comum apontado pelos educadores é o papel da família no combate à violência escolar. Para eles é essencial que os pais e responsáveis se envolvam com a escola.
“A família conhece o aluno em casa, mas quando ele está em outro ambiente, principalmente o ambiente de escola onde se relaciona socialmente com outros alunos ele tende a se transformar um pouco. Alguns alunos vão além do que fazem em casa e os pais participando da escola ficam sabendo como que o filho age. Com a família na escola a gente consegue amenizar muita coisa em relação à violência e ao uso de droga”, explica Jessildo Nogueira, que é diretor de um colégio em Rio Branco.
Segundo ele, quando acontece um caso de violência entre alunos na escola em que dirige, os pais são acionados e caso seja necessário o policiamento escolar também. Nos casos em que a agressão é contra o professor, também funciona assim, com a diferença que o docente é orientado a fazer um boletim de ocorrência.

http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2014/04/violencia-assusta-professores-em-escolas-do-acre.html

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