Site Cultural de Feijó

Site Cultural de Feijó

Condenado por homicídio aprende a fazer crochê em presídio no Acre

'Também quero terminar meus estudos', diz detento. 
Presos apresentaram trabalhos em feira realizada no presídio da capital.

Aline NascimentoDo G1 AC
Adenilton Amorim aprendeu fazer crochê dentro do presídio  (Foto: Aline Nascimento/G1)Adenilton Amorim aprendeu a fazer crochê dentro do presídio (Foto: Aline Nascimento/G1)
Música, poesias, paródias, exposição de artesanato e cartazes com a história da tecnologia e da comunicação. Esse foi o cenário que decorou o pequeno pátio onde 50 reeducandos  do regime fechado do Presídio Estadual Francisco d'Oliveira Conde apresentaram, nesta terça-feira (19), seus trabalhos produzidos durante as aulas do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem). 
Estudante do ensino fundamental, o presidiário Adenilton Batista Amorim, de 24 anos, é um dos 62 detentos que participam das aulas, oferecidas apenas a quem tem bom comportamento. Orgulhoso, ele mostra os chapéus e tapetes de crochê que aprendeu a  produzir dentro do presídio. Condenado por homicídio, Amorim explica que aprendeu fazer crochê com um amigo de cela, quando teve acesso ao material.
"Não tinha o que fazer, então, aprendi a fazer crochê e isso só foi possível através do bom comportamento. Fui sentenciado há 18 anos também por homicídio, dos quais 4 anos já foram cumpridos. Também quero terminar meus estudos e tive essa oportunidade aqui dentro, estou aproveitando o máximo que posso para terminar todo ensino médio", contou.
A feira foi realizada com a participação dos professores e do coordenador do projeto dentro do presídio. Durante toda manhã, os reeducandos apresentaram trabalhos sobre a história dos primeiros meios de comunicação no Brasil, sobre o avanço da tecnologia na sociedade e cantaram algumas paródias sobre os problemas vividos por eles dentro da unidade prisional.
Com uma folha de papel nas mãos onde lê e relê a história do rádio no Brasil, José Anderson, de 24 anos, cumpre pena há 3 anos e 4 meses por homicídio e conta que só conseguiu retornar aos estudos quando veio para o presídio. Nervoso com a apresentação, o jovem explica que o programa é uma segunda oportunidade para quem não terminou os estudos.
Turma do Projovem conta com 62 alunos, que conseguiram a oportunidade estudar atráves do bom comportamento (Foto: Aline Nascimento/G1)
Turma do Projovem conta com 62 alunos, que
conseguiram a oportunidade estudar atráves do bom
comportamento (Foto: Aline Nascimento/G1)
"Tive essa oportunidade do lado de fora, mas só vim aproveitar aqui dentro. Só tinha a 5ª série quando cheguei aqui, agora estou concluindo a 8ª série e sempre quis terminar meus estudos. Quero fazer o ensino médio e quem sabe um dia, fazer uma faculdade para ser advogado", conta Anderson.
Professor de matemática do programa, Juscelino Dantas explica que todos os trabalhos apresentados foram produzidos durante três meses de aula.
Para ele, a feira é uma oportunidade para os presos mostrarem a capacidade que cada um tem. "Estou há dois meses  dando aula aqui dentro e pude ver que eles só precisam de uma chance para mostrarem, que apesar dos erros cometidos na juventude, ainda podem recomeçar . O papel do professor é mostrar o quanto eles são capazes e podem terminar os estudos", disse.
José Goés, de 24 anos, também voltou a estudar depois que foi preso. O detento é um dos poucos que conseguiram concluir o ensino médio dentro da unidade prisional. Preso há 6 anos e 6 meses por homicídio, Goés fez a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado, mas não alcançou a nota exigida para cursar engenharia eletrônica.
  •  
José Goés concluiu o ensino médio dentro do presídio e sonha em cursar Engenharia Elétrica  (Foto: Aline Nascimento/G1)José Goés concluiu o ensino médio dentro do presídio e sonha em cursar engenharia elétrica (Foto: Aline Nascimento/G1)
"Peguei 20 anos de pena, mas em agosto já estou saindo por causa do meu bom comportamento. Vou fazer o Enem de novo e dessa vez vou conseguir a nota para cursar Engenharia, que é um sonho", revelou.
Segundo o coordenador do Projem dentro do presídio, Davi de Albuquerque, o programa começou com 150 alunos, mas alguns já conseguiram a liberdade e outros desistiram dos estudos. Ele conta que a feira é realizada de 3 em 3 meses, onde os alunos expõem os artesanatos e trabalhos produzidos dentro da sala de aula. Atualmente, o programa conta com três turmas.

Deixe um comentário

Nenhum comentário:

Imagens de tema por compassandcamera. Tecnologia do Blogger.