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A lição de Maluf para Eduardo Cunha: Explicações de Cunha 'não convencem'.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, comanda sessão que aprovou a desaposentadoria
Pode parecer piada, mas Paulo Maluf já foi um candidato viável à Presidência da República. Ele era visto, logo depois de perder a eleição no Colégio Eleitoral para Tancredo Neves em 1985, como a alternativa natural dos militares e da então oposição à sucessão – naquelas eleições que acabaram vencidas por Fernando Collor de Mello.


Todo mundo sabia quem Maluf era desde que, graças a sua proximidade com o regime militar, foi governador de São Paulo, entre 1979 e 1982. Lembro perfeitamente, quando garoto, a excepcional caricatura de Gepp & Maia, publicada no Jornal da Tarde, em que o nariz dele crescia a cada dia que se aproximava a data fatídica marcada na promessa de extrair petróleo do interior paulista, por meio da improvável Paulipetro. A imagem de Pinóquio está indelevelmente associada a seu nome.



Até o mês passado, Maluf negava em interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF) ser dono de contas que lhe são atribuídas na ilha de Jersey, um paraíso fiscal no canal da Mancha. Ele é acusado de desviar US$ 340 miilhões de obras construídas quando prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996, como o túnel Ayrton Senna e a avenida Água Espraiada. A ação penal que se arrasta há anos, hoje conduzida no STF pelo ministro Luiz Fachin, está repleta de provas da propriedade das contas, entre elas dados fornecidos pela própria Justiça de Jersey, onde Maluf foi condenado a  devolver US$ 32 milhões à Prefeitura paulistana, razão pela qual está na lista de foragidos da Interpol. Mesmo assim, sua defesa insiste que ele “não tem e nunca teve contas no exterior”.



A imagem do nariz de Maluf, um gigantesco galho de árvore ocupando uma página dupla de jornal, me veio à mente ontem diante da notícia de que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, era investigado desde abril na Suíça, por suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. “As informações do MP da Suíça relatam contas bancárias em nome de Cunha e familiares”, informou a Procuradoria Geral da República (PGR) em comunicado. As contas em questão foram bloqueadas.



A reação de Cunha diante da pergunta natural – afinal, ele e sua família têm ou não conta na Suíça? – foi desconversar, usando como pretexto uma consulta a seus advogados. “Meu porta-voz será sempre meu advogado. Não há o que falar”, disse Cunha. Os advogados de Cunha informaram desconhecer a investigação na Suíça e se disseram prontos a “prestar os devidos esclarecimentos que se façam necessários, mas mantendo a sua postura de se manifestar somente nos autos de processos” e caso fossem questionados formalmente pelas autoridades.



Eles devem mesmo ter um trabalhão com a denúncia detalhada que a PGR apresentou contra Cunha, como já escrevi. Até agora, nada menos que quatro delatores e um quinto investigado na Operação Lava Jato já mencionaram, em seus depoimentos, o nome de Cunha como beneficiário de propinas: o doleiro Alberto Yousseff, o ex-executivo da Toyo-Setal Júlio Camargo (que afirmou ter pagado US$ 5 milhões a Cunha), o lobista Fernando Baiano (que confirmou a história de Camargo), o ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa (que atribuiu a Cunha a “palavra final” nas indicações da diretoria internacional da empresa) e o lobista João Augusto Henriques (que afirmou ter feito um depósito numa conta na Suíça atribuída a Cunha, em tese a mesma bloqueada pelas autoridades locais).



Cunha aproveitou o dia de ontem para fazer aquilo que sabe fazer com maior competência: manobras no Legislativo. Estendeu uma sessão da Câmara para evitar a abertura da sessão conjunta do Congresso, necessária para apreciar os seis vetos da presidente Dilma Rousseff que ainda precisam ser votados – entre eles ao reajuste de 78% nos salários do Judiciário – para evitar despesas de R$ 35,3 bilihões no Orçamento de 2016. Sem a votação, Cunha cria mais uma dificuldade para Dilma.



A questão toda, para Cunha, é que ele fica a cada dia mais parecido com Maluf. As evidências na Lava Jato se acumulam, seus dribles na imprensa se sucedem, suas explicações não convencem – e sua força política começa a se esvair. A história de Maluf está aí para provar que, por mais poder que alguém possa projetar ou exercer, ninguém resiste quando um galho de madeira começa a brotar em seu nariz.

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